Esta é uma afirmação sobremodo humilhante e, ao
mesmo tempo, bastante abençoadora para o verdadeiro discípulo de Jesus. Foi
muito humilhante para os discípulos ouvirem que não haviam escolhido a Cristo.
As necessidades de vocês são tantas, e seus corações, tão endurecidos, que
vocês não me escolheram. Mas, apesar disso, foi extremamente reconfortante para
os discípulos saberem que Cristo os havia escolhido — “Não fostes vós que me
escolhestes a mim; pelo contrário, eu vos escolhi a vós outros”. Isto lhes
mostrou que Cristo os amou antes de eles O amarem — Ele os amou quando ainda
estavam mortos em pecados. Em seguida, Jesus mostrou aos discípulos que seria o
amor que os tornaria santos: “Não fostes vós que me escolhestes a mim; pelo
contrário, eu vos escolhi a vós outros e vos designei para que vades e deis
fruto, e o vosso fruto permaneça”. Consideremos as verdades deste versículo na
ordem em que são expressas.
1. Os homens não escolhem
naturalmente a Cristo — “Não fostes vós que me escolhestes a mim”. Isto era verdade a
respeito dos apóstolos; também é verdade a respeito de todos os que crerão em
Jesus, até o final do mundo. “Não fostes vós que me escolhestes a mim.” O
ouvido natural é tão surdo, que não pode ouvir; os olhos naturais, tão cegos,
que não podem ver a Cristo. Em certo sentido, é verdade que todo verdadeiro
discípulo escolhe a Cristo; mas isto acontece somente quando Deus abre os olhos
da pessoa, para que ela veja a Jesus; quando Deus outorga vigor ao braço
ressequido, para que ele abrace a Cristo.
O significado das palavras de Jesus era: “Vocês
nunca me teriam escolhido, se eu não os tivesse escolhido”. É verdade que,
quando Deus abre o coração do pecador, este escolhe a Cristo e a ninguém mais,
somente a Cristo. É verdade que um coração vivificado pelo Espírito sempre
escolhe a Cristo, a ninguém mais, somente a Cristo, e por Ele renunciará o
mundo inteiro.
Irmãos, este versículo nos ensina que todo pecador
despertado se mostra disposto a seguir a Cristo, mas não antes de ser tornado
disposto. Aqueles que dentre vocês foram despertados, não escolheram a Cristo.
Se um médico viesse à sua casa e dissesse que viera para curá-lo de sua
enfermidade, e se você sentisse que não estava doente, diria ao médico: “Não
preciso de você; procure o vizinho”. Esta é a maneira como você age para com o
Senhor Jesus: Ele lhe oferece a cura, mas você Lhe diz que não está enfermo;
Ele se oferece para cobrir, com a obediência dEle mesmo, a nudez de sua alma,
mas você responde: “Não preciso dessa roupa”.
Outra razão por que você não escolhe a Cristo é
esta: você não vê qualquer beleza nEle. “E como raiz de uma terra seca;
não tinha aparência nem formosura” (Is 53.2). Você não vê qualquer beleza na
pessoa de Cristo, nenhuma beleza na obediência dEle, nenhuma glória na sua
cruz. Você não O vê e, por isso, não O escolhe.
Outra razão por que você não escolhe a Cristo é
esta: não quer que Ele o torne santo. “Lhe porás o nome de Jesus,
porque ele salvará o seu povo dos pecados deles” (Mt 1.21). Mas você ama o
pecado, ama os seus prazeres. Por isso, quando o Filho de Deus se aproxima e
lhe diz: “Eu o salvarei dos seus pecados”, você responde: “Amo o pecado, amo os
meus prazeres”. Por conseguinte, você nunca pode chegar a um acordo com o
Senhor Jesus. “Não fostes vós que me escolhestes a mim.” Embora eu tenha
morrido em favor de vocês, não me escolheram. Tenho lhes falado por muitos
anos, mas, apesar disso, vocês não me escolheram. Tenho lhes dado a Bíblia,
para instruí-los, e ainda assim vocês não me escolheram. Irmão, esta acusação
lhe sobrevirá no Dia do Juízo: “Eu o teria vestido com a minha obediência, mas
você não o quis”.
2. Cristo escolheu seus próprios
discípulos. “Eu vos escolhi a vós outros”. O Senhor Jesus contemplou os seus
discípulos com um divino olhar de misericórdia, dizendo-lhes: “Eu vos escolhi a
vós outros”. Todos aqueles que Jesus traz à glória, Ele os escolheu.
O tempo em que Ele escolheu os
discípulos. Observamos que foi antes de eles crerem — “Não fostes vós que me
escolhestes a mim; pelo contrário, eu vos escolhi a vós outros”. Isto equivale
a: “Fui eu que comecei a lidar com vocês, não foram vocês que começaram a lidar
comigo”. Você perceberá isto em Atos 18.9 e 10: “Teve Paulo durante a noite uma
visão em que o Senhor lhe disse: Não temas; pelo contrário, fala e não te
cales; porquanto eu estou contigo, e ninguém ousará fazer-te mal, pois tenho muito
povo nesta cidade”. Nesta ocasião, Paulo estava em Corinto, a cidade mais
lasciva e ímpia do mundo antigo. Os coríntios se davam a banquetes e à
detestável idolatria, mas Cristo disse ao apóstolo: “Tenho muito povo nesta
cidade”. Eles não tinham escolhido a Cristo; Ele, porém, os escolheu. Aqueles
coríntios não se haviam arrependido ainda, mas Cristo fixou seus olhos sobre
eles. Isto mostra claramente que Cristo escolhe os seus discípulos antes que
estes O busquem.
Além disso, Cristo os escolheu desde o princípio —
“devemos sempre dar graças a Deus por vós, irmãos amados pelo Senhor, porque
Deus vos escolheu desde o princípio para a salvação, pela santificação do
Espírito e fé na verdade” (2 Ts 2.13); “assim como nos escolheu, nele, antes da
fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis perante ele; e em amor”
(Ef 1.4). Portanto, irmãos, foi antes da fundação do mundo que Cristo escolheu
os seus próprios discípulos, quando não havia sol, nem lua; quando não havia
mar, nem terra — foi no princípio. Ele podia dizer com certeza: “Não fostes vós
que me escolhestes a mim”. Antes que os homens amassem uns aos outros, ou que
os anjos se amassem mutuamente, Cristo escolheu os seus próprios discípulos.
Agora sei o que significam as palavras de Paulo, quando ele disse: “A fim de
poderdes compreender, com todos os santos, qual é a largura, e o comprimento, e
a altura, e a profundidade e conhecer o amor de Cristo, que excede todo
entendimento” (Ef 3.18-19).
Agora não fico surpreso com a morte de Cristo. Foi
uma expressão de amor tão grande que transbordou os diques que o retinham, um
amor que irrompeu no Calvário e no Getsêmani. Ó irmão, você conhece este amor?
Agora falemos sobre a razão deste amor. “Não fostes vós que me escolhestes a mim; pelo contrário, eu vos escolhi a vós outros” (Jo 15.16). Esta é uma pergunta natural: por que Ele me escolheu? Respondo que a razão por que Ele escolheu você foi o beneplácito da vontade dEle mesmo. Você pode ver isto ilustrado em Marcos 3.13: “Depois, subiu ao monte e chamou os que ele mesmo quis, e vieram para junto dele”. Havia uma grande multidão ao redor de Jesus; Ele chamou alguns, mas não chamou a todos. A razão apresentada é esta: “Chamou os que ele mesmo quis”. Não há qualquer razão na criatura; a razão está nEle, que escolhe. Você verá isto em Malaquias 1.2 e 3: “Eu vos tenho amado, diz o Senhor; mas vós dizeis: Em que nos tens amado? Não foi Esaú irmão de Jacó? — disse o Senhor; todavia, amei a Jacó, porém aborreci a Esaú”. Eles não eram filhos da mesma mãe? Apesar disso, “amei a Jacó e aborreci a Esaú”. A única razão apresentada é esta: “Terei misericórdia de quem eu tiver misericórdia” (Êx 33.19). Você também pode ver isto em Romanos 9.15 e 16. A única razão que a Bíblia nos oferece para explicar porque Cristo nos amou (e se você estudar até à sua morte, não encontrará outra) é esta: “Terei misericórdia de quem me aprouver ter misericórdia”. Isto é evidente de todos aqueles que Cristo escolhe.
Agora falemos sobre a razão deste amor. “Não fostes vós que me escolhestes a mim; pelo contrário, eu vos escolhi a vós outros” (Jo 15.16). Esta é uma pergunta natural: por que Ele me escolheu? Respondo que a razão por que Ele escolheu você foi o beneplácito da vontade dEle mesmo. Você pode ver isto ilustrado em Marcos 3.13: “Depois, subiu ao monte e chamou os que ele mesmo quis, e vieram para junto dele”. Havia uma grande multidão ao redor de Jesus; Ele chamou alguns, mas não chamou a todos. A razão apresentada é esta: “Chamou os que ele mesmo quis”. Não há qualquer razão na criatura; a razão está nEle, que escolhe. Você verá isto em Malaquias 1.2 e 3: “Eu vos tenho amado, diz o Senhor; mas vós dizeis: Em que nos tens amado? Não foi Esaú irmão de Jacó? — disse o Senhor; todavia, amei a Jacó, porém aborreci a Esaú”. Eles não eram filhos da mesma mãe? Apesar disso, “amei a Jacó e aborreci a Esaú”. A única razão apresentada é esta: “Terei misericórdia de quem eu tiver misericórdia” (Êx 33.19). Você também pode ver isto em Romanos 9.15 e 16. A única razão que a Bíblia nos oferece para explicar porque Cristo nos amou (e se você estudar até à sua morte, não encontrará outra) é esta: “Terei misericórdia de quem me aprouver ter misericórdia”. Isto é evidente de todos aqueles que Cristo escolhe.
A Bíblia nos fala sobre duas grandes apostasias:
uma, no céu; outra, na terra. A primeira, no céu: Lúcifer, a estrela da manhã,
pecou por orgulho, e Deus o lançou no inferno, bem como todos aqueles que
acompanharam a Lúcifer em seu pecado. A segunda apostasia, na terra: Adão pecou
e, por isso, foi expulso do Paraíso. Tanto Adão como Lúcifer mereciam a
condenação. Deus tinha um propósito de amor. Em favor de quem existia este
propósito? Talvez os anjos apelaram pelos outros anjos que eram seus
companheiros. Mas Cristo os deixou de lado e morreu em favor do homem. Por que
Ele morreu em favor do homem? A resposta é: “Terei misericórdia de quem me
aprouver ter misericórdia”. Isto também é evidente nas pessoas que Cristo
escolhe. Talvez você pense que Cristo deveria escolher os ricos, mas o que
disse Tiago? “Não escolheu Deus os que para o mundo são pobres, para serem
ricos em fé e herdeiros do reino que ele prometeu aos que o amam?” (2.5)
Você também pode imaginar que Cristo deveria
escolher os nobres; eles não têm os preconceitos que os pobres têm. Mas, o que
nos dizem as Escrituras? “Não foram chamados muitos sábios segundo a carne, nem
muitos poderosos” (1 Co 1.26). Ou talvez você pense que Cristo deveria escolher
os eruditos. A Bíblia está escrita em linguagem difícil; suas doutrinas são
árduas à compreensão; apesar disso, veja o que Cristo disse: “Graças te dou, ó
Pai, Senhor do céu e da terra, porque ocultaste estas coisas aos sábios e
instruídos e as revelaste aos pequeninos” (Mt 11.25).
Ainda, você pode imaginar que Cristo deveria
escolher pessoas cheias de virtudes. Embora não haja nem um justo, existem
algumas pessoas que são mais virtuosas do que outras. Todavia, Cristo disse que
publicanos e meretrizes entram no reino de Deus, enquanto os fariseus são
deixados do lado de fora. “Ó profundidade da riqueza, tanto da sabedoria como
do conhecimento de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão
inescrutáveis, os seus caminhos!” (Rm 11.33) Por que o Senhor Jesus escolheu os
mais ímpios? Eis a única razão que encontrei na Bíblia: “Terei misericórdia de
quem me aprouver ter misericórdia e compadecer-me-ei de quem me aprouver ter
compaixão” (Rm 9.15).
Cristo escolhe alguns dos que O
buscam e não outros. Houve um jovem rico que veio a Cristo e
perguntou-Lhe: “Bom Mestre, que farei para herdar a vida eterna?” (Mc 10.17)
Este jovem foi sincero, mas um obstáculo surgiu entre eles, e o jovem recuou.
Uma mulher pecadora veio aos pés de Jesus, chorando. Ela também foi sincera, e
Cristo lhe disse: “Perdoados são os teus pecados” (Lc 7.48). O que causou a
diferença? “Terei misericórdia de quem me aprouver ter misericórdia.” O Senhor
Jesus “chamou os que ele mesmo quis”. Ó meu irmão, humilhe-se ante a soberania
de Deus. Se Ele decidiu ter compaixão, Ele terá compaixão.
3. Apresento o terceiro e último
ponto: “Eu... vos designei para que vades e deis fruto, e o vosso fruto
permaneça”(Jo 15.16). Cristo escolhe não somente aqueles que serão salvos, mas
também a maneira como isso acontecerá. Escolhe não somente o começo e o fim,
mas também o meio. “Deus vos escolheu desde o princípio para a salvação, pela
santificação do Espírito e fé na verdade” (2 Ts 2.13). “Assim como nos
escolheu, nele, antes da fundação do mundo, para sermos santos e
irrepreensíveis perante ele; e em amor...” (Ef 1.4). E lemos em Romanos 8: “E
aos que predestinou, a esses também chamou; e aos que chamou, a esses também
justificou; e aos que justificou, a esses também glorificou” (v. 30). A
salvação é como uma corrente de ouro que une o céu à terra. Dois elos estão nas
mãos de Deus — a eleição e a salvação final. Mas alguns dos elos estão na terra
— a conversão, a adoção, etc. Irmãos, Cristo nunca escolhe um homem para crer e
ser imediatamente transportado à glória. Ah! meu irmão, como isto remove todas
as objeções levantadas contra a santa doutrina da eleição! Alguns talvez digam:
“Se sou eleito, serei salvo, viverei como quiser”. Não, se você vive em
impiedade, você não será salvo. Outros talvez digam: “Se eu não sou um eleito,
não serei salvo, viverei como eu quiser”. Se você é ou não eleito, eu não sei.
Eu sei isto: se você crer em Cristo, será salvo.
Quero perguntar-lhe: você já creu em Jesus? Está
portando a imagem de Cristo? Então, você é um eleito e será salvo. Todavia,
existem muitos que ainda não creram em Cristo e não têm uma vida santa. Então,
não importa o que vocês pensam agora, descobrirão ser verdade que estão entre
aqueles que foram deixados de fora.
Oh! meu irmão, aqueles que negam a eleição negam
que Deus pode ter misericórdia! Esta é uma doce verdade: Deus pode ter
misericórdia. No seu coração endurecido não existe nada capaz de impedir que
Deus tenha misericórdia de você. Tome posse desta verdade no coração: Deus pode
ter misericórdia. “Não fostes vós que me escolhestes a mim; pelo contrário, eu
vos escolhi a vós outros.”
Fonte: Editora Fiel
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